O Homem Da Camisa Branca
COM TEXTO E ATUAÇÃO DE BETO MATOS, GRUPO PHILA 7 APRESENTA “O HOMEM DA CAMISA BRANCA”
Montagem tem como base a emblemática imagem do chinês desconhecido que enfrentou uma coluna de tanques de guerra em Pequim, em 1989
Considerada um dos ícones mais marcantes da resistência no século XX, a imagem de um chinês desarmado e desconhecido em frente a uma fileira de tanques em Pequim, na Praça da Paz Celestial, em 1989, é o tema que norteia o espetáculo-solo “O Homem da Camisa Branca”, com texto e atuação de Beto Matos.
Em 05 de junho de 1989, um dia após o exército chinês ter dispersado violentamente o protesto de milhares de estudantes na Praça da Paz Celestial, um jovem desarmado enfrentou sozinho uma coluna de tanques de guerra, impedindo seu avanço. Este breve instante de protesto pacífico, registrado pela mídia mundial, tornou-se um dos maiores ícones de resistência do séc. XX. Naquele momento histórico, o que o mundo viu foi um homem desafiando, não apenas uma máquina, mas todo um sistema. Para o Phila7, no espetáculo “O Homem da Camisa Branca”, o foco de atenção é o outro, invisível à mídia, o condutor do tanque.
O texto de Beto Matos foi desenvolvido com o apoio do Prêmio Estímulo de Novos Textos de Dramaturgia para Teatro – 2008 da Secretaria do Estado da Cultura do Governo de São Paulo. O espetáculo, dirigido por Marcos Azevedo, fez sua estréia em João Pessoa – Paraíba, no dia 19 de agosto de 2010, no CONEXÃO XXI – FESTIVAL CÊNICO e foi destaque na MOSTRA FRINGE do FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA 2012.
O HOMEM DA CAMISA BRANCA se inspira nas inquietações dos movimentos de ocupação dos espaços públicos, que acontecem pelo mundo inteiro, e mais recentemente no Brasil. Também no medo que tais movimentos provocam nos indivíduos e instituições, enquanto tentam entender como lidar com esta nova relação em rede.
O recente movimento pró-democracia em Hong-Kong que reuniu milhares de ativistas nas ruas da cidade tem chamado a atenção de todos para a China. A tensão entre a polícia e os estudantes que ocupam as vias públicas nos fazem lembrar claramente dos conflitos de Tiananmen (Praça da Paz Celestial) em 1989 e mostra a atualidade e pertinência do assunto tratado no espetáculo “O Homem da Camisa Branca – Para Além da Fresta” do Phila7.
“O texto traça uma aproximação, uma especulação sobre o conflito vivido por aquele homem sem a ambição de chegar a respostas ou de dissecar aquele acontecimento, apenas compartilha esse ponto de vista, o que leva evidentemente o espectador a revisitar aquele ato de resistência “também” sob outro ângulo. Tudo é bem delicado nesse solo que não busca impor ideias e pode levar o espectador mais disponível a pensar sobre a existência a partir do ato de encher uma xícara de chá, como faz o performer. Para mim valeu ter visto, foi um dos bons momentos que passei nessa edição do Festival de Curitiba.”
Beth Néspoli – crítica e jornalista
CONCEPÇÃO E MONTAGEM – “O Homem da Camisa Branca”, parte da simbólica imagem do jovem chinês que enfrentou uma coluna de tanques de guerra em 1989. Naquele momento histórico, o que o mundo viu foi um homem desafiando, não apenas uma máquina, mas todo um sistema. Porém, o autor informa que “no espetáculo, o foco de atenção é o outro, invisível à mídia: o condutor do tanque”.
O enredo traz um homem que encena cotidianamente, há 20 anos, o seu encontro pessoal e intransferível com o jovem chinês, num monólogo em que autor, ator e personagens dialogam por meio das inúmeras possibilidades do “olhar”.
“Consideramos o palco como uma fresta, por meio da qual o público vê os acontecimentos”, explica Beto Matos. Em cena, há apenas alguns elementos concretos do mundo do personagem, como uma mesa, uma cadeira, um jogo de chá, por meio do qual se estabelece uma relação direta entre ator e o público.
Posteriormente, surgem os elementos do universo do ator, como projetor de vídeos, câmera, o palco e a própria plateia. E é o próprio ator quem manipula as imagens lançadas em cena, criando uma intermediação midiática e simbólica entre a subjetividade do personagem e o público. “Através da fresta, o público acompanha o livre trânsito entre ator e personagem em busca de entendimento, colocando no mesmo nível de leitura o real, o imaginário e o simbólico. A caixa teatral como metáfora do tanque”, analisa o diretor Marcos Azevedo.