O Olhar do Boto

A presença fundamental é a água. Água dos rios, água dos igarapés que surgem do aquífero, águas que abrem caminhos por onde o boto navega e tudo vê e tudo escuta. O boto é o guia, que nos revela todo o encantamento do lugar, através de seu olhar poético, em seu percurso ele encontra com diversos personagens locais de Alter do Chão, como Seu Angêlo, viúvo de Dona Raimunda, a grande curandeira do norte brasileira, conversa com Chico Malta, ícone do carimbó, transforma-se no boto-homem Hermes, penetra numa relação com Bruna Borari, a mulher, vibra com as maracas do cacique Osmarino, presencia o festival do Sairé e delicia-se com as inusitadas personagens anarcoecologicas, que surgem pelo trajeto: papagaios malucos, árvores falantes, curandeiros e a própria personificação dele mesmo.

Tudo isso é vivido em um longa-metragem que é projetado em uma tela de grandes proporções, colocada na beira da piscina, onde o reflexo da própria tela cria/refletindo na piscina uma segunda tela.

Tanto o espectador da arquibancada como o espectador nadador-navegante – na piscina- vivência, também por meio do som, a experiência concreta da ecolocalização – biosonar dos botos: reflexão do som.

O som aqui é vivido como objeto-sonoro, ou seja, vivenciamos sua presença física no espaço – vozes, sons da natureza, frequências e ritmos – que aludem diretamente a forma de comunicação dos Botos, passeiam pelo espaço, gerando uma sensação sinestésico, fazendo com que uma suposta linearidade fílmica se transmute num estado sincrônico/simultâneo. Contemplação ativa.